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Diário do NetLabTV – Dias 5 e 7,5

8 maio 2018

Por Manuel Rolim.

Breno Silveira já era diretor de sucessos como 2 Filhos de Francisco e Gonzaga. Já tinha feito a direção de fotografia de filmes como Carlota Joaquina e Eu, Tu, Eles. Já havia trabalhado com Eduardo Coutinho, o maior documentarista do Brasil. Mas quando foi escrever sua primeira série de TV, ele conta que se sentiu como um estagiário em seu primeiro dia. Por quê? Segundo o Breno, em mesa redonda no NetLabTV onde conversou sobre sua carreira, “pode parecer óbvio para vocês, mas para mim a estrutura de arcos longos e arcos curtos era uma completa novidade”.

Explico: existem dois tipos de séries, as procedimentais e as serializadas. As primeiras são aquelas em que você vê um episódio hoje, outro daqui a 2 anos, e consegue entender sua dinâmica. CSI, House, Law and Order, Seinfield são bons exemplos em que a história (ou histórias) principal de cada episódio tem começo, meio e fim dentro do seu formato. Já as serializadas são todas aquelas em que você precisa ver todos os episódios para entender. House of Cards, The End of The F***** World, Breaking Bad, Mad Men são exemplos de serializadas. E, neste caso, a estrutura dramática dos personagens tem um arco dentro de cada episódio, mas também um arco longo que se cumpre ao final da temporada. Cada episódio tem início, meio e fim, mas sua resolução precisa, ao mesmo tempo, deixar em aberto o futuro da trama. É o gancho que vai fazer você querer assistir ao próximo episódio.

Breno Silveira em Masterclass do NetLabTV

Confesso que o depoimento do Breno me tranquilizou. Porque se alguém com o estofo dele passou por isso, a minha ignorância em relação ao assunto me soou menos ingênua. Apesar da minha simplificação, a estrutura de uma narrativa serializada é tão complexa quanto uma entrevista do Gilberto Gil. São várias camadas, tramas que se desenvolvem em paralelo e se cruzam (ou não) em determinado momento, pontos de virada e desenvolvimento dos personagens, que é preciso muito estudo para aprender a construir grandes narrativas neste formato.

O mercado publicitário teve uma pequena prova do poder da narrativa serializada com o case The Beauty Inside. Criada em 2012 pela Pereira O’Dell para a Intel e Toshiba (sim, a campanha é para duas marcas. Durma com esse barulho, Rede Globo), a websérie contava a história de Alex, uma pessoa que acordava a cada dia com um corpo diferente. Apesar da mudança externa, o que estava dentro se mantinha. Assista de novo e veja como a estrutura narrativa de arcos curtos e longos é estabelecida. Grande parte do sucesso da campanha (sim, branded content também é campanha) vem da construção narrativa da história.

É sintomático que desde então nenhuma outra marca tenha conseguido repetir o êxito da Intel e da Toshiba. Foram feitos ótimos clipes musicais de Branded Content, curta-metragens (Beyond Money é o melhor exemplo) e até longa-metragens (Lo and Behold, tem no Netflix), mas neste período nenhuma série, de web ou de TV, conseguiu ser memorável.

Acredito que em breve teremos um novo The Beauty Inside. Vejo o mercado se movendo, com publicitários cada vez mais entrelaçados com o cinema e a TV. A AlmapBBDO, umas das maiores agências do Brasil e uma das melhores do mundo, está promovendo um curso de roteiros para sua equipe. Os melhores profissionais de criação brasileiros sentados em uma sala de aula humildemente aprendendo técnicas narrativas.

A minha experiência no NetLabTV me mostrou a distância que ainda separa a publicidade das séries e formatos longos. Assim como os formatos, o caminho também é longo, mas é melhor começar agora. Mais cedo ou mais tarde, vai ser tarde demais.

IDEIA EM FORMATO DE P.S.: Uma série documental chamada A Religião dos Outros, em que uma pessoa com determinada crença precisa mergulhar na cultura de outra religião. A cada episódio seria abordada uma fé em específico. Um intercâmbio religioso para suscitar a tolerância.

É sintomático que nenhuma marca tenha conseguido repetir o êxito do case The Beauty Inside.

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