BLOG

Criatividade x Dados

2 agosto 2018

Por Gabriela Neves.

Quando falamos de Ciências Humanas e, dentre elas, de Comunicação Social, é normal que a associação seja com comportamento humano e questões filosóficas intangíveis.  Na Publicidade, então, feeling e percepção sempre foram protagonistas. E não é que esteja errado, mas em um mundo com milhares de dados sendo produzidos a cada segundo, confiar só no feeling é, no mínimo, incoerente.

A verdade é que as agências sempre foram ambientes descolados, de funcionários disruptivos ansiando por inovação criativa. E a parte dos números e das métricas ficava restrita ao setores de mídia e planejamento. No entanto, a necessidade de implementação de uma cultura analítica – orientada por dados – torna-se mais visível a cada dia que passa.  Só no universo web temos um volume de 62 milhões de pessoas que acessam o Facebook todos os dias. No Google, as buscas diárias ultrapassam 96 milhões. É como se metade da população brasileira fizesse uma busca por dia. Isso sem citar todas as outras redes e os dados não sociais.  

São muitos dados, todos os dias, numa velocidade muito rápida. Mas eles, sozinhos, não dizem muito coisa. Organizados, dizem muito, mas muito mais do que a maioria imagina. As empresas e agências que não exploram Big Data de maneira estratégica estão ficando para trás. Netflix, Uber e Spotify, por exemplo, já nasceram passos à frente dos demais. E tudo porque eles decodificam dados e rastros de comportamento a seu favor.

Um estudo realizado em 2014 pelo Mission Control, laboratório do Cappra de Big Data Social sobre aplicativos de relacionamento, exemplifica muito bem a aplicabilidade da análise de dados sociais. Nesse estudo, alguns highlights chamam bastante atenção: 50% das pessoas que usam aplicativos de relacionamento buscam por um relacionamento sério. E 39% das menções sobre aplicativos são sobre reclamações. Além disso, “nudes” são menos de 1% das menções e a utilização da feature “match” representa 33% do geral. Não parece diferente do que costumamos presumir? 

Esses são apenas alguns exemplos pontuais, mas foram categorizados também os horários e dias em que as pessoas mais falam sobre o assunto, além de dados geográficos e até um comparativo de sentimento por aplicativo, com termos mais utilizados em cada caso.  Recentemente, o Boticário lançou uma nova linha de produtos e uma campanha com o tema “Match: respeito aos cachos”. Em 2014 o estudo realizado pela Cappra já indicava, por exemplo, a probabilidade alta de recepção ao termo e vários indicadores para auxiliar a criação e direcionar a mídia da campanha. O sucesso da categoria de Data Creativity do festival de Cannes 2018, com mais de 500 inscrições, também é um indicativo do momento de mudança.

Bom, isso quer dizer que o modus operandi de fazer publicidade morreu? Quer dizer que o mundo mudou e a forma como entendemos o comportamento também. Se conseguimos quantificar, indexar e categorizar dados sociais (com mais agilidade) ao invés de apenas supor o que as pessoas acham, por que não fazê-lo? O aspecto criativo continua sendo inerente à interpretação e à tradução dos insights obtidos. Mas a possibilidade de produzir dados estruturados, quase que em tempo real transforma e facilita o caminho de quem vai fazer a tradução dos dados e os highlights para insights.

shutterstock_1007491309 (1)

Dados estatísticos e trabalhos de pesquisas, no geral, sempre foram utilizados. Porém, dados sociais, produzidos pelo próprio consumidor, desde rastros de comportamentos em rede até produções de conteúdos alternativos, nunca tiveram um volume tão extenso e acelerado.  E a data science nasceu para organizar tudo isso. De que adianta um volume tão grande de dados e conteúdo se não for possível mensurar e organizar os padrões de comportamento para uma análise estratégica? Esse foi um dos recados dados pelo Cappra Data Science, no Skinner Bootcamp ministrado aqui em Belo Horizonte, na penúltima semana de Junho.

O fato é que a ciência de dados já faz parte da vida das pessoas sem que elas nem percebem – vide assistentes virtuais, algoritmos e IOT- mas a implementação de uma cultura analítica nas empresas, horizontal e democratizada, ainda está apenas começando. E o dilema criatividade x números? A criatividade continua sendo 99 por cento transpiração e 1 por cento inspiração. Mas, da parte de transpiração, pelo menos metade do caminho pode ser encurtado pela ciência de dados. Não existe mais criatividade vs dados.  Criatividade, conteúdo, dados e números andam lado a lado e se entrelaçam cada vez nesta Era da Conexão.

Se conseguimos quantificar, indexar e categorizar dados sociais (com mais agilidade) ao invés de apenas supor o que as pessoas acham, por que não fazê-lo?

COMENTÁRIOS

deixe o seu comentário:

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *