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Diário do NetLabTV – Dia 1

19 abril 2018

Por Manuel Rolim.

Trabalhar com publicidade é ter que entender um pouco dos vários tipos de artes, sem nunca ser um artista. O NetLabTV é uma experiência muito intensa para quem trabalha com criação publicitária. Ontem aconteceram várias mesas com enfoques distintos. Ainda estou digerindo tudo o que foi dito, como a fala do roteirista argentino Patricio Vega comparando a estrutura de um roteiro a uma sinfonia. Por ser uma arte rítmica, para ele o audiovisual está mais próximo da música do que da literatura. Na propaganda, com a limitação de tempo (30s ou 60s) talvez isso faça ainda mais sentido.

Mas o que mais me tirou do conforto foi a fala da Juliana Vicente, da TV Preta. Ou melhor, a existência da TV Preta foi a grande sacudida. Uma produtora feita primordialmente por mulheres pretas, produzindo um conteúdo que não se vê.

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A lógica dela é matadora. “Se eu, mulher preta, não me identifico com o que é exibido na TV, eu mesma vou produzir este conteúdo.” E já produziu muita coisa foda. Desde clipe dos Racionais passando por curtas premiados em Cannes até a série Afronta!.

Onde eu estava que nunca tinha ouvido falar desse projeto? Onde estão as marcas que ainda não estão produzindo seus conteúdos, inclusive publicidade, com a TV Preta? Não só marca de cosméticos para o público negro, mas marcas de cervejas, moda, banco, o que quer que tenga este público como seu consumidor.

A internet foi uma revolução para as minorias. Pessoas que nunca tiveram voz na sociedade puderam se expressar e, tão importante quanto, ouvir seus semelhantes. A TV Preta leva este movimento para o audiovisual. O caminho é sem volta. Ao contrário do famoso bordão, esta revolução vai ser televisionada sim.

IDEIA ANOTADA COMO P.S. Durante uma palestra que demorou para acabar, surgiu uma ideia: fazer um remake do Anjo Exterminador (aquele filme do Buñuel em que os convidados não conseguem ir embora de um jantar) em que as pessoas não conseguem sair de uma mesa redonda. O assunto acabou, as tretas acabaram, mas ninguém sai. Elas ficam e ficam e ficam até a última consequência, que é o início de uma nova mesa redonda.

“Se eu, mulher preta, não me identifico com o que é exibido na TV, eu mesma vou produzir este conteúdo.”

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